A distinção entre Direito Subjectivo e Interesse Legalmente Protegido é uma querela que radica no direito Italiano. Esta questão é de avultada importância em Itália uma vez que neste país a distribuição da jurisdição é feita de acordo com a situação jurídica lesada: quando estão em causa direitos subjectivos a competência é atribuída aos tribunais comuns; por outro lado, os interesses legalmente protegidos são tutelados pelos tribunais administrativos.
A questão em análise, encontra-se directamente relacionada com princípios especialmente relevantes no domínio do Direito Administrativo, como são os princípios da prossecução do interesse público, do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e o princípio da legalidade.
A questão em análise, encontra-se directamente relacionada com princípios especialmente relevantes no domínio do Direito Administrativo, como são os princípios da prossecução do interesse público, do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e o princípio da legalidade.
A actividade da Administração Pública
tem como principal objectivo a prossecução do interesse público, o
alcance do bem comum, que se traduz na satisfação das necessidades colectivas.
É este seu objectivo que torna a iniciativa e parcialidade, pelas quais se
caracteriza a Administração, pressupostos essenciais da sua actuação.
No entanto, todo este plano de
intervenção por parte da Administração Pública não se pode realizar sem o
respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares. Numa
análise superficial podemos pensar que esta contrapartida é facilmente
ultrapassável dada a existência do Princípio da Legalidade, segundo o qual a
Administração apenas pode prosseguir o interesse público dentro dos parâmetros determinados
por lei. Não obstante a efectividade deste princípio, há que ter em conta que o
mesmo, por si só, não basta para que se verifique o respeito integral dos
direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos. É nesta medida que a
questão em análise se reveste de uma importância enormíssima.
Na opinião do professor Diogo Freitas do
Amaral, tanto numa figura como na outra existe um interesse privado reconhecido
e protegido pela lei. Porém, enquanto no direito subjectivo essa protecção é
plena e imediata, no interesse legítimo a mesma caracteriza-se por ser mediata
e mitigada. Esta realidade leva a que no direito subjectivo o particular tenha
como faculdade exigir à Administração os comportamentos necessários para a
satisfação integral do seu interesse privado, bem como, o poder de obter a sua
completa realização em caso de violação ou não cumprimento; na dimensão do
interesse legalmente protegido o particular apenas pode exigir à Administração
que não o prejudique ilegalmente. Em caso de ilegalidade, o particular não
poderá realizar plenamente o seu interesse em tribunal, mas apenas, eliminar os
actos ou comportamentos ilegais que o tenham prejudicado. Sumamente, pode-se
dizer que, no direito subjectivo, o que existe é um direito à satisfação de um
interesse próprio, enquanto que, no interesse legalmente protegido, apenas nos
deparamos com a garantia da legalidade das decisões que entrem no domínio do
interesse próprio.
O Professor Marcelo Rebelo de Sousa vai
ao encontro da doutrina referida acima, contudo reconhece que a utilidade
prática do exposto é bastante diminuta, uma vez que as expressões são quase
sempre referidas em conjunto nos textos normativos. Retomando o raciocínio já
exposto, a seu ver, direito subjectivo diz respeito a um “interesse directa e
imediatamente protegido, mediante a concessão de um feixe de faculdades que
incluem a possibilidade de obter a tutela jurisdicional plena”. Por outro lado,
entende que os interesses legalmente protegidos, onde abrange os interesses
indirecta e reflexamente protegidos, surgem “quando a ordem jurídica considera
certos interesses merecedores de protecção, embora não com a prioridade e
intensidade de um direito subjectivo”.
Uma via diferente é tomada pelo Professor
Vasco Pereira da Silva, que não se mostra a favor desta distinção, afirmando
que a constituição equipara os direitos subjectivos e os interesses legalmente
protegidos, tratando-os, ambos, como situações jurídico-materiais dos
indivíduos. Entende que os dois conceitos são entidades da mesma natureza, e
que devem ser reconduzidas à categoria unitária de direitos subjectivos. Para a
distinção das duas realidades não encontra fundamento, apontando como única
diferença uma eventual maior ou menor amplitude do conteúdo de cada um dos
conceitos.
Até hoje a doutrina não conseguiu reunir
o consenso relativamente a esta questão. Reconheço o quão apelativa é a
explicação do Professor Freitas do Amaral e compreendo como é fácil defender-se
a existência concreta de dois conceitos distintos apelando a uma verdadeira
protecção do interesse próprio, que se contrapõe a uma mera garantia de
legalidade da actuação administrativa, no que concerne a matérias que caiam no
domínio deste interesse.
No entanto, mesmo recorrendo a este
argumento, que considero o elemento central das teses dos Professores Freitas
do Amaral e Marcelo Rebelo de Sousa, há que ter em contra que continuamos a
tratar apenas de diferentes graus de tutela conferida pela ordem jurídica a posições
jurídicas subjectivas, como aponta o Professor Vasco Pereira da Silva.
Concluindo, a existir uma verdadeira
distinção entre estes dois conceitos essa não poderá exceder o plano
quantitativo uma vez que os todos os argumentos apresentados a favor de uma distinção
verdadeira e plena (no plano qualitativo, entenda-se) se reconduzem a esta
dimensão.
Maria Inês Serrazina
140112006
Sem comentários:
Enviar um comentário